Humildade, ambição e aprimoramento

“Reconhecer os próprios erros não é humildade, não. Reconhecer e aprender com os próprios erros é ambição.”

Pedro Bial

A associação entre humildade e ambição não costuma ser trivial. Segundo o dicionário de Oxford, humildade é a virtude que consiste em conhecer as próprias limitações, enquanto que ambição é o anseio de alcançar um determinado objetivo. No entanto, para se chegar em qualquer destino, é preciso saber onde estamos no mapa, para depois traçar o caminho. Da mesma forma, o primeiro passo para se atingir qualquer meta é justamente reconhecer o estado atual e o que é preciso fazer para alcançá-la. O caminho de qualquer ambição começa pela humildade de reconhecer o aprendizado e as conquistas necessárias para conquistá-la.

O filósofo grego Sócrates é possivelmente o autor que mais enfatizou a importância de uma postura humilde para o aprendizado. “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”, diz uma de suas frases mais famosas. “Só sei que nada sei” talvez seja a mais conhecida de todas as suas citações. Elas exemplificam a postura do filósofo nos diálogos, em que ele costumava construir o conhecimento conjuntamente com seus interlocutores.

Todo aprendizado se inicia pelo desejo de aprender. E a humildade é, justamente, o reconhecimento de que precisamos aprender. Ela é a característica que nos permite aceitar que o outro – seja através do diálogo, de um livro, um curso ou uma obra de arte – sempre tem algo a nos ensinar. E é também a abertura para receber esse conhecimento e aplicá-lo em nossas vidas.

A humildade em uma perspectiva prática

Em uma perspectiva prática, no mundo de hoje, o aprendizado e o aprimoramento são necessidades fundamentais. Estima-se que 60% das profissões que dominarão os próximos 10 anos ainda não existem, segundo pesquisa realizada jornal The Independent, da Inglaterra. Para a empresa de computadores Dell, em levantamento feito junto com Institute For tThe Future, esse número é ainda maior: 80%.

Diante deste cenário, a humildade de reconhecer que precisamos nos preparar para o futuro e a ciência de que aquilo que nós sabemos hoje talvez não seja suficiente para sobrevivermos daqui a 10 anos é crucial. É o primeiro passo para encarar o desafio de aprendizado que todos nós teremos pela frente.

A humildade em uma perspectiva prática

A humildade sob a perspectiva da espiritualidade

“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso pai, que está nos céus.”

Mateus 5.48

Por outro lado, em uma perspectiva espiritual, o aprendizado e o aprimoramento constantes também são imperativos. A bíblia, em diversas passagens, convida e prega aperfeiçoamento dos Cristãos, como no versículo acima, do Evangelho de Mateus, que nos coloca como modelo a perfeição de Cristo. Paulo, na carta aos Coríntios também faz essa convocação “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1), que acontece em diversos outros trechos.

No espiritismo, no Livro dos Médiuns, Allan Kardec, para a pergunta “Qual é o objetivo da vida?” obteve a seguinte resposta: “Deus quis que os Espíritos se voltassem para os interesses da alma. O aperfeiçoamento moral do homem, eis aí o fim e o objetivo da vida.”

Os budistas, no oriente, acreditam que o caminho de todos os homens é a iluminação, através do aprimoramento da consciência física e espiritual, que levará o homem a atingir um estado de elevação, chamado de nirvana. É o plano mais alto de consciência, no qual o ser está livre da dor do mundo físico.

Assim, tanto por uma perspectiva material e prática, quanto por uma visão espiritual, a ambição do aprimoramento parece ser um caminho para o qual todos nós nos destinamos e humildade é uma virtude fundamental para chegarmos lá.