Como aliar o desenvolvimento espiritual no nosso cotidiano? Reflexões sobre o livro “Nosso Lar” de Chico Xavier
Uma de minhas primeiras leituras espíritas foi o clássico “Nosso Lar”, psicografado por Chico Xavier, através do espírito de André Luiz. Após desencarnar, o então médico na terra passa oito anos no Umbral, uma dimensão que está “entre” a material (ou física) e a espiritual (ou sutil), em que habitam os espíritos desencarnados que ainda mantém vínculos fortes com a matéria.
André demora a entender porque habita tal espaço, afinal na terra, havia sido uma pessoa correta. Não cometeu crimes, manteve uma família estável e praticou a medicina. Em um momento de crise profunda no Umbral, ele suplica, de forma genuína, o auxílio divino e acaba por ser atendido. Recolhido pelo espírito de Clarêncio, o médico é levado à Colônia Espiritual Nosso Lar, onde inicia a sua recuperação e continua sua evolução espiritual.
“Conceituara, até ali, os erros humanos, segundo os preceitos da criminologia”, relata em trecho da obra. “Por fim, abafando os impulsos vaidosos, reconheci a extensão de minhas leviandades de outros tempos. A falsa noção da dignidade pessoal cedia terreno à justiça. Perante minha visão espiritual só existia, agora, uma realidade torturante: era verdadeiramente um suicida, perdera o ensejo precioso da experiência humana, não passava de náufrago a quem se recolhia por caridade”, conclui.
A bela obra prossegue e conta em detalhes os primeiros anos de André Luiz no campo espiritual, como ele entende os erros de sua passagem na terra e reencontra o seu equilíbrio. No entanto, como encarnado, essa reflexão inicial do texto me tocou, gerando muitos questionamentos. Como, em vida na terra, conciliar as necessidades e desafios que todos temos nos campos do trabalho, relacionamentos, sustento e criação da família, disputas políticas, desejos e anseios pessoais, dentre outros, com esse desenvolvimento espiritual?
Conexão Espiritual e fé
Nesse caso, a própria pergunta nos traz um princípio de resposta. É preciso mantermos a consciência de que nossa missão na terra é justamente o nosso desenvolvimento espiritual. Esse questionamento tem que ser frequente e permear todos os campos de nossa vida: estamos, de fato, nos dedicando à nossa evolução?
O hábito diário da oração é fundamental. Em seu “Livro Alquímico”, Saint Germain escreve que as “mensagens dos Mestres da Grande Fraternidade Branca nos têm instruído e servido como base quanto à sintonia com as Hostes Celestiais e os Planos de Luz, onde cada um se torna responsável em canalizar as energias e manifestações necessárias para seu próprio crescimento e desenvolvimento na luz”. Ou seja, a luz dos seres superiores está disponível para acessarmos.
A vida, seja na matéria ou no campo espiritual, é um presente divino. A oração é um hábito de fé e o elo com a fonte de energia inesgotável que é Deus. Essa conexão ganha força com o hábito da prática diária da prece e leitura. A disciplina no questionamento sobre a nossa evolução, na fé e oração vão nos revelando os caminhos, “no tempo certo”, como Clarêncio costumava dizer a André Luiz.
Propósito
“Gosto de imaginar que o mundo é uma grande máquina. Você sabe, máquinas nunca têm partes extras. Elas têm o número e tipo exato das partes que precisam. Então, imagino que se o mundo é uma grande máquina, eu também estou nele por algum movido. E isso significa que você também está aqui.”
A invenção de Hugo Cabret
A busca pelo desenvolvimento espiritual, o exercício da fé e da oração diárias formam um dos pilares. Mas quando estamos diante da nossas necessidades mais básicas da sobrevivência material, no cotidiano do trabalho, por exemplo, como praticar o nosso desenvolvimento espiritual nesse ambiente?
Obviamente, todos estamos na terra com necessidades únicas de desenvolvimento. No meu caso, uma das maneiras que encontrei de conciliar esses dois objetivos foi através de uma dedicação genuína com meus colegas de trabalho. Por sorte de ocupar uma posição de liderança, transformei em minha missão o compartilhamento de informações, o foco no desenvolvimento pessoal de cada um, com a criação de uma agenda de capacitação, além de muita conversa e feedbacks personalizados.
Meu grande objetivo é que as pessoas que trabalhem comigo cresçam profissional e pessoalmente, através de uma convivência em um ambiente de respeito, justiça, colaboração, entrega e desenvolvimento. Essa, porém, não é uma resposta formatada e nem aplicável em todos os casos.
Ela é a forma que encontrei de me sentir em paz com meu espírito ao aliar o suprimento de minhas necessidades materiais com um cotidiano em que percebia também estar desenvolvendo minha espiritualidade e contribuindo com meus colegas de jornada espiritual.
Estamos, de fato, nos dedicando à nossa evolução? A pergunta, nesse caso, é o mais importante hábito. Pois é ela que irá nos instigar a prece que, com o tempo, nos trará as respostas sobre como conciliar não só nossa vida profissional, mas também familiar, social e nossos hábitos diários com o nosso desenvolvimento espiritual.
“É indispensável, André, converter toda oportunidade da vida em motivo de atenção a Deus”
Chico Xavier, por André Luiz, em “Nosso Lar”




